quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Tarzan Vol. 1: 1968-1970 de Russ Manning



Deixo aqui um artigo escrito por João Miguel Lameiras, sobre a edição pela Bonecos Rebeldes de "Tarzan" Vol. 1: 1968 - 1970" de Russ Manning, já que representa tudo o que penso sobre esta edição e como melhor eu não teria dito:

"Tarzan: O Regresso do Senhor Selva

Depois do aturado trabalho de restauro levado a cabo com o “Príncipe Valente”, de Harold Foster, a editora Bonecos Rebeldes inicia a publicação de outro clássico da Banda Desenhada americana publicada nos jornais, a série “Tarzan”, na versão clássica e elegante de Russ Maning.

Criado pelo escritor inglês Edgar Rice Burroughs, em 1912, nas páginas da revista “The All Story”, Tarzan é uma das mais conhecidas personagens de ficção de sempre. Nascidas na literatura, as aventuras do homem macaco foram adaptadas ao cinema e à televisão, mas seria a Banda Desenhada a fazer inteira justiça ao universo fantástico imaginado por Burroughs, graças ao trabalho de desenhadores como Harold Foster, Burne Hogart e especialmente, Russ Manning.

Nascido na Califórnia em 1929, Manning foi o desenhador que melhor revitalizou a imagem do homem-macaco sem trair o espírito criativo de Burroughs e a sua verdadeira essência romanesca, trazendo a série de regresso às origens com grande sucesso, graças à “harmonia dinâmica” (expressão feliz de Jorge Magalhães) do seu traço, que reconquistou os leitores cansados de ver o seu herói favorito nas mãos pouco talentosas de desenhadores banais, como John Celardo, que Russ Manning substituiu em 1967.


Mas ainda antes de se tornar desenhador das tiras diárias de Tarzan para a United Feature Syndicate, os caminhos de Russ Manning já se tinham cruzado com outras criações de Burrroughs. Logo em 1950, desenhou umas páginas de apresentação para a série “John Carter of Mars” que a Editora Dell ia começar a publicar, mas entretanto com o eclodir da guerra na Coreia, Manning viu-se mobilizado e mandado para o Japão, perdendo assim a oportunidade para o desenhador Jesse Marsh. Depois de desmobilizado, em 1952, Manning vai trabalhar ao lado de Marsh na revista “Tarzan” da editora Dell/Gold Key, desenhando “Brothers of Spear”, e “Korak, Son Of Tarzan”, séries secundária da revista protagonizada pela criação maior de Burroughs.

Com a morte de Marsh em 1965, Manning substitui-o como desenhador de “Tarzan” na revista do homem-macaco, onde adaptou à BD os primeiros sete romances de Burroughs. Uma adaptação bastante fiel, recentemente editada em Portugal na série “Os Clássicos da Banda Desenhada”, publicada com o jornal “Correio da Manhã”. Face ao seu currículo, a escolha de Manning para ilustrar as tiras diárias e as pranchas dominicais de “Tarzan” surge como perfeitamente natural, traduzindo o reconhecimento do trabalho do desenhador californiano com o Rei da Selva.




Reunindo, por ordem cronológica, num volume grande em formato italiano (sobre o deitado) as páginas dominicais desenhadas por Manning entre 1968 e 1970, esta iniciativa da editora Bonecos Rebeldes dá a descobrir um autor elegante e talentoso no auge das suas capacidades artísticas e narrativas. Ao longo dos dois anos de publicação que este volume recolhe, Manning faz-nos acompanhar Tarzan em aventuras fantásticas em cenários exóticos, numa África mítica, onde subsistem civilizações pré-históricas decadentes, mundos perdidos, belíssimas mulheres e inimigos julgados mortos, como Daga Ramba, personagem introduzido na série por Burne Hogart, que Manning recupera.

Mesmo que a minha análise possa ser afectada pelo olhar nostálgico de alguém que redescobre (muito melhor impressas) as histórias que leu durante a sua infância, em edições brasileiras, a verdade é que estas histórias, em cenários exóticos e com uma dimensão épica que o cinema nunca conseguiu dar a Tarzan, envelheceram muito bem, tal como o traço de Manning, que se mantém tão atractivo como dantes.

Vamos esperar que esta edição de “Tarzan” conheça o mesmo sucesso que está a ter a edição do “Príncipe Valente”, também da Bonecos Rebeldes. Para que outros clássicos da Banda Desenhada publicada nos jornais possam vir a ser publicados em edições com esta qualidade, ficando assim acessíveis para as várias gerações de leitores."

Artigo escrito por: João Miguel Lameiras

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